O pão de Deus que o Diabo amassou

6a273866877b4dde02aa4d7a49016ba1765047Percebo de forma simplista, o processo de fabrico de um bom Pão de Deus.

Percebo ainda que a lógica de criar um negócio seja lucrar com ele.

Percebo também que, quando o produto vende, a vontade de crescer e lucrar ainda mais seja maior.

Percebo até, e infelizmente, que o capital humano nos tempos modernos seja um ‘factor desvalorizável’ que facilmente se possa ajustar para minimizar o seu impacto negativo no tal lucro que pretendemos obter. É sinal de que os tempos, apesar de tanta discussão e tanto activismo (nem que seja de sofá), não estão de feição para elevarmos a nossa auto-estima enquanto trabalhadores.

Diria até que percebo que o conceito de ‘estilo de vida’, ‘subsistência’ e ‘dignidade’ sejam muito variáveis em função do patamar social que ocupamos, daquilo que fazemos e dos valores que nos moldaram até ao que somos hoje, em termos visão de abordagem social.

Onde eu começo a deixar de perceber é quando uma política empresarial, longe de ser um exemplo de filantropia (que não tem que ser), estruturada naquilo que a visão dos seus líderes entendem como justa (que também pode não o ser), ‘sente a necessidade’ de acrescentar layers de conteúdo e defendida como uma coisa super-empática ou, no limite, muito ligada ao capital humano. Pelo que vejo e pelo que leio, pode estar longe de o ser.

E começo a ter mesmo muitas dificuldades em perceber quando um responsável por uma empresa confunde progressão de carreira, recompensa e evolução (a qual pode estipular como bem entender) com espírito de equipa, piqueniques e cremes para rabinho de bebé. Os primeiros são elementos essenciais para aferir a base da valorização das pessoas na organização, os segundos são gestos que ficam bem quando são feitos de forma desinteressada e sem necessidade de puxar pelos galões em relação às mesmas. Diria que são gestos que ficam bem quando são os trabalhadores a referi-los, nem tanto quando é o patrão a tentar exibir um tom magnânime.

É que é uma chatice viver numa época em que a tentativa bacoca de tudo tentar ter um tom politicamente correcto convive com a máquina empresarial que, ao longo da história humana, sempre se safou melhor quando os direitos das pessoas não eram metidos ao barulho. E assim, numa entrevista, em que o mote eram 550 novas contratações, novos processos de aquisição, formação e afins, a tentação de mostrar serviço e justificar políticas empresariais acaba no campo do floreado, com coisas que são muito bonitas mas não mascaram o essencial: é muito mais fácil perceber como se faz um bom pão de deus do que saber como valorizar dignamente colaboradores que ajudam ao sucesso da empresa.

 

2 pensamentos sobre “O pão de Deus que o Diabo amassou

  1. hoje o meu comentário é apenas este: OBRIGADA!
    tocaste precisamente no ponto. ainda não tinha visto nenhum comentário tão inteligente, nem tão bem escrito sobre esta notícia.

    aaarrrggghhh… pseudo-empatia ou politicamente correto-forçado… dá-me vómitos (mais do que os pães de deus em questão!)

    • Ora essa, parece-me óbvio e nem tem que ver com o facto de parte do meu trabalho ser apresentar sempre o lado mais favorável de determinadas circunstâncias (acho que se chama a isso: publicidade). Tem a ver sim com a constante ‘lavagem’ manhosa de imagem que atinge pontos ridículos por contrastar com tantos aspectos que esses sim, são coisas que valem a pena mencionar na relação entre empresas-empregados…

Tens a certeza disso que dizes?